21.3.16

Aquele instante

Quando busco aquele instante
em seu passo fugidio
renasce um sorriso brilhante
que em nada sabe a vazio

mas quando em mente o persigo
e sua memória procuro
zanga-se logo comigo
esconde-se num canto escuro

vai-se o contentamento
e em vozes sai ocioso
o ar que respira o momento
e volta a mim curioso
breve, sem que se entenda
agarra-se ao pensamento
e faz-me sorrir de novo

Rita Pessoa

3.10.14

os dois dias da vida

o primeiro dia da vida é para acordar e o segundo é para olhar para os sonhos que se teve enquanto se dormia

9.6.14

ver

Não há união entre o que mora dentro e o que se expõe. 
O caminho entre os dois é aquilo que faz girar a corda que a vida guia.
Mas cuidado pois ao pensar, a corda de tão delicada faz-se pesada, densa e obscura a passada. 
Chorar é nada. 
Chorar é sal. Chorar não se compara ao que se rompe quando a corda é puxada.
Quisera ter cordas para escrever em melodias tudo aquilo que em alquimias compõe esta neblina. 
A turva visão que nem com o choro é limpa. 
Mas onde estou eu se não aqui enquanto escrevo? 
É a tristeza não mais do que aquilo que permite a chuva que vem dissipar a neblina. 
Ah quanto temer porque enquanto o céu é denso a mente é cega e não deixa viver. 
Cada segundo de ilusão é menos uma verdadeira criação.
E é sem querer que se continua a querer.
Ah mas quisera saber sem querer esquecer o querer e apenas ver.
Ver como se não houvesse neblina.
Ver como se tudo fosse tão real e nada se quebrasse quando a verdade é desvendada.
Ver como se tudo pudesse ser transformado dentro desta realidade naquilo que esta realidade realmente é.
Ver.

1.5.13

O maior dos bichos de sete cabeças

8.1.13

Na certeza

Na certeza de que o futuro é claro e de que o céu vai brilhar, como pode a escuridão inundar o olhar? E como pode o coração palpitar sem parar na certeza que há uma rede para cada salto amparar? Ser é permanecer na ilusão de estar dividido entre o indivíduo e a multidão. A vida corre sem cessar e quanto mais a matéria se tenta apegar mais longe fica o gesto espontâneo e puro e esquecida fica a transcendência de a todos amar. Na certeza de que o lugar que acalma o respirar poderá ser o uno que sentindo-se dará a mão ao invés de deixar afundar.

4.7.11

Cansando o tempo

Leve como a verdade que não pode deixar de colorir, querer a realidade de poder perder-se no que não se quer esconder e deixar-se sorrir.
Pleno de tudo e cheio de uma coisa sonhada, ser como a vida do lado de cá da mais bela história encantada.
Depois, esquecendo o medo e a apreensão, deixar voar quem quer descolar do chão e acreditar que está longe do pensamento o momento de aterrar.
Olhar as estrelas e, na verdade do querer, desejar que o tempo se canse de correr e, parando para descansar nalgum lugar, nos deixe algum para viver.

18.6.11

A alma que não sabia boiar

Nada há de mais vazio que um sonho intacto que não encaixa na vida. Leve como uma baloa, vagueia pela superfície da realidade e não se consegue fixar.
A vida parece cheia, preenchida, mas além da crosta repleta de tudo e do além que não se quiz seguro, está aquilo que ou se aceita ou não se pode ir buscar, um espaço para uma forma difícil de interpretar, e é nesse espaço que a alma, quando se perde, cai para se afogar.

14.6.11

A quem da janela olha os gatos

"Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu."

Fernando Pessoa

As pessoas concretas são como gatos e metade da vida fica explicada. A outra metade, quando imaginada, parece sempre ser tudo, mas vista da rua é nada.

5.6.11

As pessoas líricas


As pessoas líricas crêem que a vida é infinita, que as pessoas são boas e que as verdades são bonitas e no fim de contas, armados os medos e dito o que magoa sofrem a realidade mas, no não viver sempre a realidade a sofrer, sofrem sempre menos em total que as outras.

31.5.11

Findos os dilemas

Findos os dilemas
Os dias são poemas
E as horas vazias
Que em vão foram espaços
Trazem alegrias
Sem pontos nem traços
Ao que no silêncio murmura
E no passar do tempo se esconde
Por esperar a ternura
Da palavra que é dita
Sem quando nem onde
Naquele momento perdida
Dando sentido à vida
Que em livros fechados
Vivia esquecida

Percepcionar e perceber

"Qual é o meu problema? O meu problema são todos os problemas"
Juntos vão directos ao coração e permitem transbordar toda a incompreensão que impede o sentido de continuar.
E a razão, que busca em perceber o seu peso aliviar, pode finalmente descansar.
Na certeza que o amanhã é claro e límpido e que, se aqui se está agora, é porque aqui é o seu lugar.

17.5.11

Quiseram...


Quiseram acreditar que o sempre existe e que não há limite no tempo para o que se procura encontrar.
Quiseram poder fechar portas e trancá-las sem olhar para trás.
Quiseram ver nas portas abertas todas as cores que creram buscar.
Quiseram poder caminhar e acreditar que no fim de tudo, depois de todas as portas fechadas estará a porta aberta a quem, em cada dia, seu destino faz.

Transcendendo a irrealidade

Os movimentos puros e os gestos seguros
fazem acreditar no além do que se pode imaginar
Há mais o que esperar e, quem, maior do que os sonhos
ainda está por encontrar?

Quando já não há palavras e aquelas que foram ditas
já não podem ser tão bonitas como aquilo que é demonstrado
O que está preso num gesto só pode ser sentido
se o momento for mudo e nada mais for ouvido
além do apressado passo daquele que guarda a vida mesmo quando trancado.

9.5.11

Conversas sérias

Pode não ter a vida seu sentido escondido, se na simplicidade de um momento vivem todas as cores do alento e nada parece perdido?

3.5.11

Adivinha (!?)

Qual é a coisa qual é ela que se esconde se procurada, morre se dividida, cresce se partilhada, não pode ser presa nem medida e de muito pensar deixa de ser sentida? Sempre que aparece na mente tranforma o dia e com ele rima. Pode parecer ilusão mas sem ela não há vida.

15.4.11

Imaginada



O sonho é uma imagem que para ser forte tem que ser imaginada e para ser história tem que ser contada.
Se não é contada vive intermitente na mente e mesmo sendo a mais verdadeira, esconde-se de dia entre as pedras da calçada e fica ali corando com o sol e esbatendo com a chuva, até não ter mais cor nem medo de nada.

7.4.11

Uma pestana


Um dia acordou e chorava. Olhou pela janela, ficou ali parada mas chorava. Parecia que tinha perdido a vida e já não a encontrava. Chamou todos os seus amigos e sonhos animados mas chorava. Entrou no seu coração, seguiu a intuição e ainda chorava. Mas então ao fitar o nada, enquanto o peso que leva a lágrima acabava, reparou que nada era mais senão uma pestana e ao pecebê-lo sorriu, mas sorrindo, ainda chorava.

2.4.11

Há dias.



Há dias em que o sonho é grande e cresce para fora do peito. O peito fica cheio, cheio, cheio e o coração, vazio de tudo e cheio de sonho, procura outro para transbordar... se não o encontra e o dia é cinzento, entra todo o cinzento para dentro do peito e faz o sonho murchar.
"Quando alguém diz que não acredita em fadas, uma fada cai e morre..." in Peter Pan, James Barrie.

28.3.11

Nisto

Se tudo se resume a isto, é o pensar nisto que resume a vida. Fica mesmo resumida, fina, alinhada com esta ideia e não encontra a saída. Mas, mesmo enclausurada a percepção, pode-se sempre espreitar pelo furo ou furar o muro. Sim, pode-se sempre. Há quem não consiga, mas nós eu sei que podemos. Sei que podemos porque outrora, em querer ser maiores do que os sonhos, nem nos apercebemos disto.

26.3.11

cabeça no ar vs cabeça sem vento



As ideias chegam como vento ao pensamento. O forte que despenteia os planos é o mesmo que sopra caloroso ao coração fazendo ascender o alento.
Entre quem deixa voar a memória pela janela e o que de pó enche a prateleira fico eu.
As asas estão penduradas e a brisa sopra.

28.2.11

Paralelismo



A ideia de que não chegou ainda o melhor momento, a melhor expressão e o verdadeiro sentimento pode, em si, durar toda a vida. É pois mais verdadeira a ideia do que nunca existiu que a realidade de um acontecimento vivido. Viver a realidade conscientemente é mais leve que entregar-se à distração da mente e a pouco e pouco deixa-se de parte o sonho, cheio da fantasia que confunde e inebria. Mas pode o sonho coexistir com a realidade nalgum momento? No infinito. E no fundo toda a gente sabe que o infinito está escondido num local de passagem perdido entre as ideias e disfarçado pelo alheamento quando se decide parar o tempo.

28.10.10

?



Metade anda ao sabor do vento para se sentir nas nuvens e a outra metade carrega nas costas o peso de todos os que têm os pés no chão. E os outros? Onde estão?

Uns continuam a alimentar o dinheirismo, mesmo que apenas em pensamentos, outros apontam soluções para o mundo falando em amor multi(com)plicado… Então mas e os outros? Onde estão?

Será que ainda restam humanos na desumanidade? Uns rotulam alternativamente e outros acham que fugir para outro planeta nos vai ajudar… Então e os outros? Onde estão?

Há quem faça tudo o que quer ao primeiro impulso da vontade e há quem procure querer o que se supõe fazê-lo feliz, limitando-se a olhar em frente… Mas, então e os outros? Onde estão?

Parece que há quem critique pensando fazer o bem e quem com nada se importe e a tudo deixe passar. Mas, então e os outros? Onde estão?

Às vezes parece que os oiço, outras parece-me vê-los por trás de uma máscara que insistem em usar mas são tão voláteis que tenho que partir para acreditar. E ou acredito neles ou acredito na ilusão.

Será que existem? Sobreviveram na imaginação de alguns?

Então e esses alguns? Onde estão?

Quem os encontrar que se acuse, que a emergência urge…

27.10.10

Il faut danser selon la musique

20.10.10

Jardim


Se quem vem o coração fechado tem, fecha o portão de casa tu também e permanece à janela até que páre de criticar o teu jardim. Se mais tarde o coração aberto tem, abre-lhe a porta de casa tu também e recebe as flores que outrora pisou como se vivas estivessem e as mais belas fossem.

1.10.10

Paz


E aconselha o sábio patinho: deixem de correr para a margem buscando outros ditos feios para lutar contra os ditos bonitos!
Porque ao fim e ao cabo os gostos não se discutem...

24.9.10

Destino

Em cada gesto um rastilho e as emoções que, por não serem sossegadas, criadas ou ouvidas, desenham no fundo branco um colorido destino.

2.9.10

Laços que criam


As pessoas passam a vida a querer dar nós cegos nos laços que criam.

14.8.10

Agir sem inspiração e suster a respiração estrangulam o coração



O egoísmo advém da incapacidade de abstracção do próprio e é a forma mais comum de desconhecimento da importância do mesmo perante outro.

8.2.08

Matérias da ilusão



A ilusão é uma pequena esfera oca à luz da razão.

8.7.07

As profundezas da realidade



A dor é vista como algo completamente condenável, tendo sido, por isso, condenada à extinção. Pouco a pouco vai sendo abolida e desde o paracetamol à dissimulação, chegando mesmo à hipocrisia, foi inventado de tudo um pouco para acabar com ela.

A verdade é que ainda é questionável, tal como a sua preferência em relação à mentira agradável.

Em muitos casos a dúvida absoluta mascara a vontade do ser e este não admitirá que deseja ser enganado mas dirá que com a verdade o enganam.

A verdade é normalmente fria, mantém-se camuflada até estar muito próxima e é deveras escorregadia. Mais que isto e não menos importante é o facto de podermos sentir um verdadeiro choque se lhe tocarmos desprevenidos.
A verdade é que já curou de alheamentos, de promessas deitadas ao vento e até de um ou outro delírio, pode curar certos braços cruzados à força e estão anotados casos de melhoria do estado de reumatismo da alma.

No entanto seja como for, a verdade é para quem tem coragem, já que antes de a sabermos pode ser qualquer.

Talvez por isso haja quem esteja permanentemente dentro de uma fato de mergulho completo, imerso na sua própria realidade, deambulando pelas profundezas de cada dia, isento de todo e qualquer toque e consequentemente de todo e qualquer choque.

Pode, em sua aparência assemelhar-se à da camuflagem da falta de vontade mas, quase sempre, trata-se apenas da protecção contra o medo mais profundo, o de encontrar de surpresa deambulando pelas profundezas da realidade a mais profunda das verdades.

A perseverança do querer como última maravilha a eleger



O descontentamento humano é bem nosso conhecido apesar de não podermos precisar quando surgiu ou se sempre existiu, tão longínquo e difuso é o relato do período anterior à famosa expulsão do paraíso.

Assumimos o descontentamento como característica que, ainda que catalogada como negativa, aparenta ter a sua cota parte de importância na força que move a engrenagem. Essa força é vulgarmente chamada de “sonho” e, despertos ou adormecidos, entre o mentalmente ordenado e a desordem de sensações, uns por si e outros movendo montanhas foi-se desenhando a história daquilo que é humano.

Ingenuamente ou conscientemente, esperançadamente ou friamente, não se descobriu ainda um ser humano que nunca tenha sonhado durante a sua existência. Normal será então pensar que alguém descontente procura sonhar. Mas a linearidade já passou à história, e os filtros mentais para lá caminham, deixando a simplicidade num beco sem saída. Estamos na era do eterno descontentamento. Antes de ver um sonho realizado deseja-se outro e outro, sem prestar qualquer atenção às realizações dos mesmos. Deste modo perde-se o verdadeiro sonho e o descontentamento dá lugar a outro descontentamento disfarçado de sonho.

Há até quem pense que a alma, definição vaga de algo que permanece, não passa de descontentamento puro.

Imaginemos que, de dia ou de noite, enquanto sonhamos com algo que desejamos ouvimos um zumbido que parece ser o de um mosquito que nos interrompe o sono…

Depressa e sem hesitar ou abrir os olhos, arremessamos a primeira almofada que nos vier à mão num tiro certeiro para calar este ser que nos importuna.

Não paramos nem para ver o que era nem para parar de sonhar.

Seguimos sonhando e saboreando o nosso conforto com um leve sorriso até ao despertar.

Mas o que nunca chegámos a sonhar foi que aquele presumível mosquito poderia tratar-se de uma minúscula fadinha… que apenas estava ali por termos em nossa mente criado um belo sonho que ela vinha, alegremente e para nosso próprio contentamento, finalmente realizar…

Sonhar é saber voar e planar vencendo o atrito deste mesmo ar.

18.11.06

Lembra-nos que "uma mentira pode ser:


verdadeira,


das que ninguém acredita,


ou simplesmente estatística".
A vida são dois dias e todos sabemos que há dias em que acordamos grandes e outros em que acordamos pequenos.

6.11.06

Anam Cara



As fadas não são boas nem más. São fadas.

5.11.06

Um chapeuzinho...



Era uma vez alguém com seu chapeuzinho que vivia com o que havia, comia o que podia, falava quando sabia e cada dia crescia e subia, crescia e subia, crescia e subia... todos o viam crescer e todos sabiam que crescia mas ninguém sabia que os chapeuzinhos que existiam já não lhe serviam...